Obesidade infantil - Tratamento e como evitar
A obesidade infantil encontra-se em níveis epidêmicos: uma em cada três crianças brasileiras encontra-se acima do peso, segundo os dados do Ministério da Saúde.
Saiba:
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o que é obesidade;
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quais as causas;
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quais as consequências;
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como prevenir;
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como tratar.
Obesidade infantil – o que é?
A criança é considerada obesa quando se encontra 20% acima do peso esperado para a idade.
O diagnóstico de obesidade faz parte da avaliação de rotina dos pediatras, através da utilização das Curvas de Crescimento.
As Curvas de Crescimento são fundamentais para o diagnóstico e avaliação do tratamento.
Obesidade infantil – Causas
Fator genético hereditário
Filhos de pais obesos tem 80% de chance de desenvolver obesidade.
Desmame precoce ou ausência de amamentação
O leite materno tem efeito protetor contra obesidade.
Estudos realizados atualmente levantaram a hipótese de que o excesso de proteína (a chamada hipótese da proteína) presente no leite de vaca integral ou nas fórmulas lácteas pode ser responsável por obesidade futura.
Ingestão de alimentos inadequados precocemente
No primeiro ano de vida é formada a capacidade de aceitação alimentar.
Os hábitos alimentares são criados pelos pais.
Pesquisas mostram que 56% dos bebês tomam refrigerante antes de completarem 1 ano e 60% comem biscoitos recheados antes dos 2 anos.
Elevado consumo calórico
Grande consumo de açúcar e alimentos industrializados, fast food, salgadinhos, refrigerantes, alimentos com alto teor de sódio que não saciam.
O alimento processado contem açúcar e gordura saturada que produz no cérebro uma sensação de prazer que alimentos naturais não tem: são viciantes.
Pouca atividade física
Crianças atualmente permanecem horas em frente a televisão e computador.
Não praticam esportes.
Não caminham: vão de carro até a escola.
Não utilizam escadas: apenas elevador.
Dificuldades para a criança brincar em ruas e parques por falta de espaços adequados e medo da violência.
Modelos parentais
Os pais são o espelho da criança.
Geralmente a alimentação da família é inadequada e os pais também tem hábitos sedentários.
Influências culturais
O alimento tem uma conotação social.
Faz parte da cultura dos povos que as festividades e as comemorações incluam comida e bebida em seus rituais.
Receber amigos para participar de refeições em conjunto, demonstra confiança, intimidade e amizade.
Quando em visita a casa de parentes, as crianças são recebidas com seu alimento predileto ou aquele bolo carinhosamente feito pela avó.
Fatores psicológicos
Bebês relacionam alimento com afeto e alívio da dor.
Quando um bebê chora, a primeira coisa que a mãe pensa é que pode ser fome, e o alimenta.
O bebê pode estar com medo, insegurança, tédio, cansaço, dor e sua necessidade é de conforto, proteção, mas recebe alimento.
Ao crescer, quando encontra dificuldades a criança regride à primeira infância e substitui as dores por comida.
Mães e avós acham que bebê saudável é bebê gordinho, que raspa o prato, e reforçam esse comportamento. A criança quer se sentir amada, então ela relaciona: se comer muito, será amada.
Problemas endócrinos (apenas 10%)
Obesidade infantil – Consequências
Problemas emocionais
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Os maiores problemas são com a imagem;
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Obesos não são bem aceitos pela turma e tem que fazer muito esforço para agradar, tornando-se muitas vezes o ¨palhaço¨ do grupo;
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Sofrem bullying;
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Desenvolvem sintomas de depressão;
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Quanto mais a criança se sente diferente e excluída, mais busca a compensação na comida.
Diabetes tipo II
O excesso de gordura dificulta a ação da insulina, o que leva ao aumento de glicose no sangue.
Problemas dermatológicos
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Estrias;
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O atrito entre uma coxa e outra provoca maceração, e é porta de entrada para bactérias e fungos;
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Brotoeja, pois a camada de gordura dificulta a saída do calor;
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Acne e dermatite seborreica, devido ao aumento de gordura na pele;
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A pele em volta de axilas e pescoço escurece dando impressão de sujeira
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Unhas encravam com facilidade.
Apnéia do sono e roncos ao dormir
Episódios repetidos de parada respiratória.
Problemas ortopédicos, em relação a postura
Aumento de colesterol, triglicérides, hipertensão
Essas alterações juntamente com a resistência à insulina aumentam o risco de doenças cardiovasculares.
Acidentes frequentes
Ocorrem acidentes em virtude da dificuldade de locomoção e problemas com reflexos.
Obesidade infantil- como prevenir
A prevenção da Obesidade infantil, começa na gestação e lactação,seguindo pela alimentação complementar.
Gestação e lactação
Mães durante a gestação e lactação devem manter alimentação variada e saudável com alimentos naturais, o que propicia a seus bebês a tendência a aceitarem alimentos saudáveis.
Amamentação
A amamentação exclusiva até 6 meses e prolongada até os 2 anos é grande aliada da prevenção da obesidade infantil, pois o leite materno é o leite mais perfeito para o ser humano.
O leite materno contem fatores que regulam o centro da saciedade e regulam a energia do organismo infantil.
Na impossibilidade de leite materno, não usar leite de vaca integral em crianças menores de 1 ano: preferir as fórmulas adaptadas.
Alimentação complementar
O adulto é o responsável pela qualidade do alimento, e a criança determina o quanto quer comer.
Bebês não devem receber alimentos contendo açúcar até os 2 anos.
O sal deverá ser sempre na mínima quantidade.
A alimentação complementar deverá ser variada de comidas naturais, privilegiando frutas e legumes frescos
A família deve se adequar a essa comida natural, sem aditivos, conservantes, processados e ultraprocessados.
Ambiente agradável a mesa.
Fazer refeições em família sempre que possível.
Não comer em frente a televisão.
Ensinar a criança a comer devagar, sentindo o sabor dos alimentos e servir de exemplo.
Não forçar, não agradar e não insistir para que a criança coma, pois a criança tem fases de maior ou menor ingestão alimentar.
Respeitar a saciedade da criança.
Não oferecer guloseimas como prêmio por ter comido tudo.
Não reforçar o prato cheio, ou o prato raspado.
Não desistir se a criança não aceita um alimento novo da primeira vez. São necessárias 10 a 15 exposições para que a criança se habitue ao novo sabor.
Não substituir por leite o alimento que a criança não quer.
Não ultrapassar 5ooml de refeições lácteas.
Reforçar o consumo diário de água e evitar os sucos, mesmo os naturais, preferindo as frutas, por conterem as fibras.
Estimular atividades físicas
Mais uma vez aqui, a família deve ser exemplo.
Aumente a atividade física da família.
Reduza a quantidade de tempo que a família passa em atividades sedentárias.
Leve a criança para passear em parques, ruas, brincar com outras crianças em parquinhos.
Andar de bicicleta, patins, natação.
Subir e descer escadas. Ajude a criança a encontrar atividades que a agradem.
Sono
Mantenha rotina de sono de pelo menos 11 horas diárias, pois a privação de sono aumenta o risco de obesidade.
Obesidade infantil – Tratamento
O excesso de peso na infância não se resolve sozinho. A criança obesa será um adulto obeso
O tratamento deverá ser multidisciplinar.
O Pediatra fará o diagnóstico através das curvas de crescimento
Afastará possíveis causas endócrinas, diagnosticará complicações e orientará o tratamento das complicações.
De uma forma geral, após o diagnóstico o tratamento que é de médio a longo prazo é baseado em um tripé:
Modificação de hábitos alimentares
Aumento da atividade física
Modificações no comportamento
Modificação de hábitos alimentares
Desmistificar o conceito de dieta: Não há benefícios com dietas muito restritivas.
Crianças submetidas a dietas restritivas mudam sua relação com a comida. Comem mais sem fome e comem quando passam por momentos de stress;
Dietas restritivas funcionam inicialmente, porem podem levar a desenvolver obsessão por alimentos e voltar a engordar mais do que no início da dieta.
Não focar na balança, mas na mudança do estilo de vida.
O importante não é perder peso, mas mudar hábitos alimentares e estilo de vida o que leva a um emagrecimento de forma natural
Ajudar as crianças a reconhecerem os sinais de fome ou saciedade
Não há alimentos proibidos. Alimentos proibidos são supervalorizados
Orientação sôbre uso moderado de alimentos mais calóricos.
Não cortar drasticamente os doces:Diminuir aos poucos a quantidade de açucar ingerida no dia a dia, e após 3 semanas o desejo do doce terá diminuido
Identificar as atitudes nocivas e corrigí-las aos poucos:
♦Comer em frente a TV: estimular alimentação a mesa, com a família, ambiente agradável
♦Mastigação muito rápida; O cérebro recebe o sinal de que recebeu comida após 20 minutos,logo comer muito rápido leva a comer em excesso
♦Falta de rotina na alimentação;
♦Pular refeições:Procurar fazer 6 refeições ao dia:café, lanche, almoço, lanche, jantar e ceia;
♦Redução gradativa dos alimentos comidos em excesso;Alimentos ingeridos em quantidades adequadas não engordam
♦Não tomar líquidos durante as refeições;
♦Tomar mais água.Evitar refrigerantes e sucos principalmente os industrializados
Aos poucos, buscar a melhoria da qualidade da dieta, com mais alimentos integrais,naturais,evitando os processados.
Estimular o uso de aves, peixes e carnes vermelhas magras pelo menos 2 vezes por semana
Alimentos diet e light
Alimentos diet não estão indicados para tratamento da obesidade infantil.
Não apresentam impacto na ingestão calórica total e não contribuem para mudanças de hábito alimentar.
Alimentos light podem ser usados em crianças com colesterol e triglicérides elevados, com risco para doenças cardiovasculares quando pais avós e tios desenvolveram problemas antes dos 55 anos(homens) e 65( mulheres).
Aumento da atividade física
60 minutos de atividade física diária no contexto de brincadeiras, jogos, esporte, trabalho, recreação
Modificações no comportamento
Perceber na criança seus pontos fracos:comer por ansiedade, gula.
Quais as fomes emocionais que a criança quer aplacar com a comida?
Como está a auto estima da criança?
Este texto foi baseado nas seguintes obras:
“Manual de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria”
“Obesidade Infantil_ guia Prático ” do Dr Nataniel Viuniski
“O Peso das dietas” de Sophie Deram